Sr. Dr. Marco António Costa, Vice-Presidente do PSD; senhor Presidente da JSD; senhores diretores-adjuntos Duarte Marques e Nuno Matias; senhora conselheira Filipa Rafael; senhor Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide - que será saudado de forma especial durante o jantar formal de abertura; senhor Vice-Presidente da Câmara; senhores Presidentes de Câmara aqui presentes; senhores Deputados à Assembleia da República; Cristóvão Crespo e Miguel Santos; minhas senhoras e meus senhores; sejam todos bem-vindos à Universidade de Verão de 2014.
Dos 100 participantes desta universidade há pessoas de todas as idades dentro dos limites etários que foram definidos e pessoas de todo o país. Há pessoas com e sem experiência política, há pessoas até sem desejo de fazer atividade política, há militantes do PSD e da JSD e há independentes. Mas, todos vós, pelo manifesto de vontade ao explicarem por que vieram candidatar-se, têm algo em comum: a circunstância de estarem disponíveis e terem vontade de fazerem intervenção cívica responsável.
Uns estão aqui pela primeira vez, mas outros, sobretudo da organização, estão aqui desde 2003. Todos nós damos a cara através do "Quem é Quem”, revelamo-nos um pouco, dizemos o que somos, o que desejamos, o que sonhamos, o que mais apreciamos. Estou certo de que ao fim da semana vamos conhecermo-nos um pouco melhor, mas desde já através do "Quem é Quem” temos a oportunidade de nos conhecermos um pouco.
O grupo que está cá resultou de uma seleção difícil de mais de 300 candidatos. Devo confessar que é a única parte que eu não gosto de preparar na Universidade de Verão, a seleção, pois ficamos sempre com a angústia de que há alguém com qualidade que ficou de fora.
Devo confessar que nunca achámos que tivéssemos errado ao colocar aqui alguém que não merecia. A nossa convicção é de que são os melhores. Espero que, através do vosso empenho, vocês provem que nós tínhamos razão e que vocês eram mesmo os melhores e merecem estar aqui na Universidade de Verão.
Vão reparar que, para nós, vocês são uma seleção nacional porque vos vamos tratar como uma verdadeira seleção nacional. Através da organização, do rigor, de todos os detalhes de que se vão aperceber ao longo desta semana, da qualidade do programa que vos oferecemos e dos oradores que convidámos para estarem convosco nesta semana.
Todos já receberam umdossiercom o material essencial e vão receber mais material ao longo da semana. Vão poder juntá-lo aos documentos que já estão nessedossier. Têm aí os "Quem é Quem”, os currículos que vão passar a receber - já têm o primeiro, do Dr. Marco António Costa, o programa e têm até páginas em branco para poderem fazer as vossas notas e registarem os vossos comentários.
Mas têm aí também algo muito importante, que são as cinco regras fundamentais. Vocês vão ver que há regras para tudo: jantares, trabalhos de grupo, assembleias e aulas. São simples, mas são as chamadas "cinco regras capitais”.
A primeira é ter vontade: não está ninguém aqui obrigado, quem está aqui quis estar, candidatou-se, foi selecionado e pagou a sua taxa de inscrição.
A segunda é querer saber mais. Diz-se que a curiosidade é sinal de inteligência, se isso é verdade temos à nossa frente 100 curiosos e curiosas nesta Universidade de Verão.
A terceira regra é ser pontual. Na nossa opinião, uma das razões da falta de competitividade no nosso país tem que ver com a falta de cumprimento de horários. Faço-vos o mesmo apelo que venho fazendo com sucesso desde 2003 em todos os anos da Universidade de Verão: vamos surpreender o país uma vez mais!
Na Universidade de Verão, dez horas não são dez e meia, não são dez e vinte, não são dez e um quarto, não são dez e dez, não são dez e cinco, nem sequer dez e dois. Dez horas são dez horas em ponto.
Nesta Universidade de Verão tudo começa e acaba a horas, não há derrapagens nem atrasos. Fazemos isso com a vossa ajuda para surpresa de todos aqueles que à distância acompanham a Universidade de Verão.
A quarta regra é serem solidários dentro do vosso grupo e dentro da família da UV.
Finalmente: serem construtivos, que é uma atitude individual e há mecanismos de participação, designadamente através das sugestões em que vocês podem ajudar a melhorar esta iniciativa. Não hesitem em serem construtivos e em explicarem como é que podemos fazer melhor.
Como é que é um dia na Universidade de Verão? Salvo raras exceções, o dia típico tem duas aulas, trabalhos de grupo e um jantar-conferência.
Vamos ver o dia de amanhã, por exemplo: começamos às dez horas com uma aula sobre a Energia e o Clima, dada pelo Eng.º Carlos Pimenta. Ao meio-dia, o mais tardar até ao meio-dia e meia, termina essa aula, que terá duas horas. Mas se houver muitas perguntas pode ter mais meia hora. Terminamos a nossa aula e depois há procedimentos que vos vão ser explicados amanhã e seguimos lá para cima para o 1º andar onde há um almoçobuffet.
A aula da tarde começa às 14h30. Recomendamos que cheguem dez minutos ou um quarto de hora mais cedo por procedimentos de entrada, porque têm de receber uns envelopes, e dessa forma poderemos começar à hora marcada.
Como sabem pelo programa, a aula de amanhã à tarde será um debate sobre se a clivagem esquerda/direita ainda é importante. Os oradores serão o Prof. Dr. Miguel Poiares Maduro e o Mestre Rui Tavares.
É uma aula que termina às 16h30 e se houver muitas perguntas o mais tardar às 17h. Às 17h, tornamos a subir para o 1º andar, para a zona do bar, onde há um pequeno lanche entre as 17h e as 17h30.
Às 17h30, começam os trabalhos do grupo. Já sei que, depois, a dinâmica do grupo vai obrigar-vos a pedalar muito e todos vós vão ter a tendência para prolongar os trabalhos de grupo mais do que seria desejável. Mas pedimos sempre que o mais tardar às 19h30 terminem os vossos trabalhos de grupo para poderem ter uma pausa entre as 19h30 e o jantar que começa às 20h.
Como depois explicarei, começa com um momento cultural protagonizado por vós. O jantar de amanhã será com o Dr. Daniel Innerarity, uma das figuras cimeiras do pensamento de ciência política na Europa. Portanto, este é o dia típico.
Relativamente ao programa, por uma razão de natureza pessoal e um pouco trágica, o Prof. António Barreto não vai poder estar connosco. Tínhamos convidado o Prof. Barreto para fazer uma avaliação dos 40 anos da democracia portuguesa, fazer uma espécie de retrato de Portugal ao longo de 40 anos. Ele não vai poder estar entre nós e não é um tema que possamos pedir a alguém para fazer, porque o que se lhe pediu foi uma avaliação quantificada com dados estatísticos de natureza demográfica, económica e social.
Não é possível substituí-lo e, portanto, optámos por outro tema que tem que ver com a realidade internacional. Vamos ter a Dr.ª Mónica Ferro, uma especialista em política internacional, a falar sobre os conflitos atuais no mundo: a guerra na Ucrânia; as aspirações russas a quererem ultrapassar aquilo que é consentâneo com o direito internacional; a tensão no Iraque; e focos de conflito noutros pontos do mundo. Este tema não está nas vossas pastas mas vai estar afixado em todo o lado, estará também na UVTV e no vosso JUV.
Vocês são convidados a participar nas aulas, nos trabalhos de grupo, nas assembleias e nos jantares. Farão intervenções em nome do vosso grupo e por isso vão ser escolhidos porta-vozes nas reuniões dos grupos. Mas há participações individuais escritas – de que falaremos mais à frente, e orais através do sistema do "Catch the Eye”, que vos explicaremos depois.
Quase todas as intervenções escritas poderão fazer através da net, excepto duas: a avaliação do tema e o "Aprendi que…”, que mais à frente explicarei com maior detalhe.
Há situações em que vão receber impressos e vão ficar na dúvida se devem fazer por escrito ou através da net. Recomendo que façam através da net, porque alguns de vós têm uma caligrafia mais criativa e correm o risco de quem interpreta o que vocês escrevem não traduzir para o computador exatamente aquilo que vocês queriam escrever.
Portanto, se o fizerem através danet, tenho a certeza de que o vosso pensamento será compreendido com mais rigor.
Através dos vossos computadores,iPads,tablets,smartphones, podem aceder à nossa rede no endereço univerao2014.com. Quem não trouxe computador nem outro instrumento destes tem lá em cima no 1º andar umapoolde dez computadores à vossa disposição para usarem quando quiserem. A redewirelesscobre aqui o rés-do-chão e parte do 1º andar: as partes onde trabalhamos.
Recomendamos que tenham em atenção a vossapassword. Já receberam nos vossos documentos iniciais apassword. Por que razão a devem usar? Porque só assim é que podem participar. Por que razão devem ser ciosos da vossapassword? É para termos certeza de que aquilo que os vossos contributos são mesmo vossos. Isto é, que não há um/a engraçadinho/a que utiliza a vossa sessão aberta para colocar na vossa parte aquilo que vocês não queriam.
Portanto, sempre que acederem aos computadores comuns não se esqueçam de sair da vossa sessão para terem a certeza de que aquilo que vocês escrevem é mesmo aquilo que queriam escrever.
A nossa universidade é muito interativa. Todos os dias vão receber o JUV que é o jornal da Universidade de Verão. Já receberam o número zero, a edição de boas-vindas
Vão receber hoje à noite, ou na madrugada, o JUV número um. O JUV é colocado por baixo da vossa porta do quarto em edições personalizadas, ou seja, cada um tem o nome e a fotografia na vossa edição. Por que fazemos isto? Não é para cederem ao narcisismo de terem a vossa fotografia na primeira página do JUV todos os dias, mas estão em quartos duplos e assim sabem que há um JUV para cada um de vocês.
Quem faz o JUV é naturalmente o Paulo Colaço, o Júlio Pisa, o João Figueiredo, mas é sobretudo cada um de vocês. Vocês é que através das vossas respostas às perguntas e ao reagirem aos desafios do JUV na Intranet vão construí-lo. Cada Grupo terá a oportunidade - dois Grupos em cada dia, de fazer o YouJUV. Não vou perder agora tempo a explicar como é que isso se faz, o Paulo Colaço explicará aos vossos coordenadores na reunião que teremos hoje por volta das 23h30.
Mas cada Grupo fica já a saber que uma vez, num dos dias, terão a oportunidade de fazerem a vossa página YouJUV que é uma separata do vosso Jornal da Universidade de Verão.
Quero agora falar das participações não-obrigatórias que vocês vão ter. Usei o vosso benjamim que é o António José Diogo como exemplo. A primeira das participação não-obrigatórias, isto é, podem fazer ou não, são as perguntas. Têm nesta sessão oportunidade de fazer perguntas escritas ao Dr. Marco António Costa, ao Secretário-Geral e ao Presidente da JSD.
Nos próximos dias, terão ocasião de fazer perguntas ao convidado do jantar e também a cinco personalidades que estão lá fora: Durão Barroso, atual Presidente da Comissão Europeia; Eng. Carlos Moedas, que vai ser o próximo comissário português na Comissão Europeia presidida por Juncker; o Ministro da Administração Interna, Dr. Miguel Macedo; um especialista em Relações Internacionais, Dr. Miguel Monjardino; e a Daniela Ruah que está em filmagens nos EUA, mas pela segunda vez acedeu ao nosso convite e vai aceder às nossas perguntas à distância.
Nestas perguntas, cada personalidade vai escolher duas perguntas apenas. Portanto, não fiquem desiludidos se não for nenhuma das vossas perguntas. Como são perguntas e respostas curtas, perceberão que se as vossas perguntas obrigarem a muita elaboração provavelmente não serão escolhidas. Isto é, pergunta curta, resposta curta. Cada personalidade vai escolher duas e elas serão publicadas no JUV.
A única personalidade que foge a esta regra é o Presidente da JSD, que como está cá durante esta semana disponibilizou-se para responder a todas as perguntas que lhe fizerem. Portanto, ele será o único dos nossos convidados a responder a perguntas escritas que responderá a todas e não apenas a duas.
Outra participação não-obrigatória são as "Sugestões” que são sugestões que me são dirigidas. O que quero que façam? Quero que pensem se vocês fossem o diretor da Universidade de Verão, o que é que fariam de diferente e eu prometo responder a todas as vossas sugestões, dizendo se concordo ou não e se concordo se posso adotar já este ano ou se apenas pode ter efeitos a partir do próximo ano.
Essas sugestões podem ser assinadas, ou podem ser anónimas. Já têm nas vossas pastas documentos em branco para as sugestões e na secretária da receção têm mais impressos para sugestões. Se quiserem dar sugestões anónimas têm impressos em branco que devem dobrar e depositar à saída no voto juntamente com a avaliação. Já vamos falar sobre como é que fazem a avaliação.
Há um momento em que vocês votam de forma secreta e podem pôr as vossas sugestões anónimas na urna.
A terceira forma de participação não-obrigatória é o "Achei Curioso”, onde podem registar algo que acharam curioso: um pormenor da organização, a atitude de um convidado, uma ideia original, e o JUV vai escolher os melhores para publicar no jornal.
Pela primeira vez em 12 anos, vamos ter uma coisa sugerida pelos vossos colegas no ano passado: uma área de citações chamada "Gostei de Ouvir”. Se houver uma citação de algum dos nossos conferencistas que vocês consideram que vos marcou e quiserem sublinhá-la, podem assinalar, dizendo quem foi a pessoa e o que é que ela disse que vocês apreciaram.
Para isto não há prazos, podem fazer em qualquer momento, excepto para as perguntas à distância. Como nós temos de enviar as perguntas, algumas delas para mais de dez mil quilómetros, o que vamos fazer é definir como prazo limite por escrito as 12h30. Isto é, durante a aula da manhã farão as perguntas por escrito que quiserem para esse dia. Quando entrarem, um bocadinho antes das dez da manhã recebem os envelopes com esses impressos; podem fazer através da net até às 14h30 ou de papel até às 12h30. Depois, enviadas às personalidades, elas irão ser escolhidas e enviadas as respostas porque é nessa noite que vamos colocar as perguntas e respostas no JUV.
Finalmente, outra participação não-obrigatória, mas que aconselho que façam: o Instituto Sá Carneiro vai lançar um dicionário de cidadania. Quero que pensem quais são os termos, conceitos, que gostariam de ver nesse dicionário. Ajudem-nos a construir esse dicionário, quais são as entradas, basta dizerem quais são os termos e se quiserem podem explicar por que sugerem esse termo, se acharem que é importante. Têm não apenas o campo para o termo para também um pequeno campo para uma justificação.
Disse-vos que são uma seleção nacional e para tratá-los como tal não podem estar fechados aqui nesta sala, têm de saber o que se passa no país, na Europa e no mundo. Todos os dias vão receber uma revista de imprensa, ao final da aula da manhã, e uma síntese das notícias que vai aparecer aqui na sala empower pointe também nos vossos quartos. Quem faz isto é a Inês Madeira Santos que foi uma das melhores alunas de uma edição anterior da Universidade de Verão.
O que também vos dá a dica de que muitos antigos alunos da Universidade de Verão são associados ao trabalho da organização, todos os conselheiros foram alunos da Universidade de Verão e também temos, como aqueles que já foram ao quarto e abriram a televisão, a UVTV. Viram o filme apresentado pelo Paulo Colaço, do ano passado, e a UVTV todos os dias tem programas e reportagens novas, aparece nas televisões que estão espalhados pelo nosso espaço, mas também nos vossos quartos.
Há duas participações obrigatórias. A "Avaliação” que temos de fazer para melhorarmos. Vão ter, em cada aula, este impresso chamado de "Avaliação do Tema” em que vos vamos pedir nove avaliações: três sobre o tema, três sobre o orador e três sobre pormenores de organização. Sobre o tema vamos perguntar sobre o tema se o acharam importante, interessante e se trouxe novidades. Peço-vos que antes de ouvirem a aula respondam logo ao primeiro requisito: se o tema é ou não importante. Porque o tema pode ser muito importante, mas não ser nada interessante porque ele não foi bem dado.
Posso encontrar aqui um orador fantástico, por exemplo, o Presidente da JSD, que vos vai dar uma aula sobre a reprodução assexuada dos caracóis e ser fantasticamente interessante e até trazer muitas novidades porque vocês não sabiam como é que eles se reproduziam, mas em bom rigor o tema não é interessante para a Universidade de Verão. Para não deixarem que a vossa avaliação seja contaminada pelo facto de gostarem ou não da forma como a aula foi dada, sugiro que façam logo essa avaliação antes de ouvir a aula, dizendo se o tema é ou não importante.
Depois sobre o/s orador/es, vamos pedir que avaliem se acham que eles sabiam da matéria, ou seja, o nível de conhecimento; se eles transmitiram bem, ou seja, a capacidade de comunicação; e, finalmente, se vos puseram à vontade, ou seja, simpatia e empatia.
Finalmente, avaliarem três aspectos da organização: se os textos de apoio que vos foram distribuídos eram bons, se houve suportes audiovisuais se estes eram bons e se o tempo dedicado ao tempo está bom, ou devia ser mais ou devia ser menos.
Peço-vos algo: não se deixem contaminar pela simpatia. Aqui há uns anos valentes, tivemos cá o Eng.º Carlos Pimenta que deu uma aula fantástica e espero que a de amanhã seja tão boa quanto a última que ele deu aqui. Todos o adoraram e quando chegou à altura de avaliar os textos de apoio, as avaliações dos vossos colegas foram grosso modo 3 como classificação. Não teria havido problema se tivesse sido entregue um documento, mas não houve, portanto, a avaliação devia ter sido 1, o que significa nada. Não façam avaliação por simpatia, respondam a cada quesito, em função do seu mérito próprio. Por quê? Porque vamos depois tratar a vossa informação, que é um voto anónimo, não vos compromete, mas é importante para nós percebermos o que é que correu bem ou mal, por forma a podermos melhorar a próxima edição da Universidade de Verão.
A grelha de avaliação é sempre a mesma para tudo o que vão ter nesta semana: de cinco a um, em que cinco é muito, quatro é bastante, três é suficiente, dois é pouco e um é nada ou quase nada.
A outras das participações obrigatórias que nós vos pedimos já não é anónima, é assinada, é relativamente ao que aprenderam. A seguir a cada aula vão responder a esta pergunta: o que aprendi nesta aula? Podem escrever uma ou mais coisas, até podem não escrever nada, mas será muito esquisito que não aprendam rigorosamente nada numa aula, sobretudo com a qualidade dos oradores que escolhemos. Mas pode acontecer. Porém, gostaríamos que preenchessem com uma, duas ou três coisas que acharam relevante.
A meio da semana já vão estar fartos de papel, não podem ver papel pois só vêem impressos e vão achar que é um exagero burocrático. Não é. É que nós damos valor à vossa opinião que é muito importante para nós porque é com ela que avaliamos e melhoramos esta iniciativa. Agradecemos, aliás, aos vossos colegas das edições anteriores da Universidade de Verão.
Se tivessem cá estado em 2003, na primeira edição, não tinham tido a pasta com a informação, a UVTV, o YouJUV, a simulação de assembleias, a aula do "Falar Claro”, a apresentação de trabalhos de grupo, as revistas de imprensa, a visita a Castelo de Vide, os debates oponentes, e tinham tido uma Universidade de Verão mais curta. Têm tudo isto porque a opinião dos vossos colegas ao longo dos anos permitiu-nos introduzir inovações e melhorias na universidade de Verão. Tudo isto resultou da avaliação dos vossos colegas e espero que da vossa avaliação continuada ao longo da semana e da final no domingo de manhã possamos melhorar ainda mais a Universidade de Verão 2015.
Para terminar, o que é que queremos? O que queremos é que saiam daqui com mais vontade de fazer intervenção cívica mais responsável. Fernando Savater é um sociólogo e filósofo, dirigente do movimento Basta Ya contra o terrorismo independentista basco, a quem nós atribuímos o prémio Sakharov no Parlamento Europeu. É o autor do livro que vos proponho no "Quem é Quem” e escreveu em 1997 isto: «se o que nos ofende, ou preocupa, é remediável, devemos pôr mão à obra e, se não é, torna-se ocioso deplorar porque este mundo não tem livro de reclamações». Meus caros amigos, este mundo não tem livro de reclamações. É por isso que temos de pôr mãos à obra.
Mas, atenção, nunca esqueçamos o que Francisco Sá Carneiro nos ensinou para a nossa intervenção política e cívica: que a política sem risco é uma chatice, mas a política sem ética é uma vergonha.
Gostaria que fortalecessem esta convicção de que a intervenção cívica deve ser feita reforçado esforço e preocupação ética acentuada.
Termino com uma história de um homem que esteve aqui há dez anos nesta sala: Juan Cebrian, o jornalista espanhol muito conhecido, antigo diretor do jornal El Pais, um homem à esquerda e que nos deu a honra de aceitar um convite nosso para uma Universidade de Verão e que é administrador do grupo do El País.
Em 1963, Cebrian tinha 19 anos e era estagiário num jornal espanhol e um dia foram-lhe dizer que Kennedy tinha acabado de ser assassinado.
Para o jovem de 19 anos, Kennedy não era uma pessoa qualquer, era o ideal de líder político de Cebrian. O assassinato de Kennedy calou o mundo, foi algo de brutal. Ele foi a correr para o jornal, mas na altura Franco ainda estava no poder, Espanha não era uma democracia, era uma ditadura e os jornalistas não eram exatamente as pessoas mais bem tratadas e tinham dois empregos para conseguir sobreviver.
O turno da tarde já estava a sair, o turno da noite ainda não tinha chegado e Cebrian diz-nos, nas palavras dele: "Na sala, vazia de gente, os telefones tocavam enlouquecidos e o telex funcionava. Durante um tempo disfrutei de uma sensação maravilhosa. Sem ninguém no jornal, a notícia era só para mim. Começou a chegar o pessoal e iniciou-se a edição que saíria na manhã seguinte. Era a primeira grande notícia que me tocava viver como profissional. Os acontecimentos passavam com grande rapidez. Naquela coisa trabalhei muito, a titular, a escrever notícias, a apanhar notícias ditadas, a paginar, a ajudar a fazer o diário. Não dormimos durante toda a noite para poder pôr na rua um diário verdadeiramente exemplar. Eu sentia-me feliz. Orgulhoso. Regressei a casa vinte e quatro horas depois de a ter abandonado. Fi-lo exausto mas contente. Com essa satisfação do dever cumprido.”
Quando ele entra em casa, no prédio, estavam a fazer uma entrega de carvão. O porteiro, para proteger o mármore branco do hall de entrada, usou jornais como fazia sempre para que o carvão não sujasse o branco do mármore. Diz Cebrian: "Atravessei a distância até ao elevador pisando de maneira consciente aquela primeira página que tanto trabalho e sonho de tanta gente tinha consumido. Horas de esforço, de imaginação e de luta postas naquele exemplar do diário. Pareciam que já não serviam senão para evitar que se sujasse o chão do meu portal.”
Faz uma referência à volatilidade do esforço e faz uma piada dizendo: "Pensei que escrevia para a cabeça das pessoas e afinal escrevia para os pés das pessoas. Foi uma lição do significado do tempo para o nosso ofício.”
Contei-vos esta história de Cebrian, para vos dizer o seguinte, que na nossa ação política ou cívica, em vez de olharem para a notícia efémera que podem conquistar tenham em conta o que se pode construir. Pensem na vossa ação não como um título, ou como um soundbite, mas como um tijolo, sabendo que em cima de cada tijolo outro vai ser colocado. Se houver critério, todos juntos permitem construir algo que valha a pena e que resiste ao tempo.
Uso esta parede de tijolos para vos desejar que sejam muito felizes na Universidade de Verão 2014.
[APLAUSOS]