Muito obrigado, antes de mais nada, pela vossa cortesia. Tenho muito prazer em estar aqui convosco. É muito agradável estar rodeado da energia que vocês representam e deixem-me começar por dizer que gostei muito de ouvir e sobretudo sentir os dois poemas que há pouco foram apresentados pois representam excelentes escolhas. Desde logo, foram escolhas que estão bem relacionadas com o espírito daquilo que se chama social-democracia.
Vamos falar um bocadinho sobre o futuro. Costumo dizer que não tomo nada de particularmente forte, tomo café, mas vivo diariamente no futuro. Trabalho em ventures que são pequenas empresas que se querem projetar para serem grandes, ambicionam-no. Ou seja, por deformação profissional, eu todos os dias trabalho no futuro e quando volto a casa regresso ao presente.
Portanto, quando me desafiaram para vos interpelar, pensei no que vos podia trazer para agregar valor, para contribuir para o vosso debate e foi justamente nesta questão que quis falar, correndo o sério risco de estar completamente equivocado e de estar apenas a partilhar a minha opinião convosco.
Então, deixem-me falar-vos um bocadinho do contexto internacional que temos, depois de Portugal e finalmente enumerar um conjunto de aspetos que acho que fosse boa ideia assumirmos enquanto cidadãos.
Vou começar por vos mostrar esta obra de arte que foi vista por mim na Corunha, no Museu da União Fenosa há uns dias. Estive de férias, infelizmente a minha mãe esteve doente e tive de partilhar as minhas férias com a minha mãe pelas razões erradas e não pelas certas, e tirei um dia para ir ver dois museus à Corunha. Num desses museus vi esta instalação que, já agora, representa a Europa.
Aquela casa que ali está, como se pode ver, está incompleta, é feita de muitas bandeirinhas que não cobrem todas as partes da casa e esta encontra-se presa por arames.
Isto é a Europa que temos. Achei este quadro particularmente feliz, porque representa uma Europa inacabada, incompleta, pouco solidária em alguns casos e sinceramente pouco coesa enquanto casa. Um dos atributos das casas é que elas têm de ser fortes, não podem cair. De facto, achei este quadro particularmente feliz. Ele ganhou o segundo prémio e achei que foi bem atribuído.
Achei tão interessante que decidi começar por isto. A obra é de um artista espanhol mas representa bem os desafios de Espanha como representa bem os desafios de Portugal.
Vocês vão ver que eu vou usar muitas pinturas e gravuras, gosto muito de Arte. Passei a tarde ali em Portalegre a ver obras de grandes pintores portugueses traduzidas em tapeçarias. Este quadro é o Amadeo de Souza Cardoso e representa bem um navio de Portugal no meio de uma tempestade.
Estamos todos fartos de ouvir a palavra crise que marca a nossa realidade desde 2008 e convém que tenhamos noção dos atributos desta crise.
Esta crise começou indubitavelmente por ser uma crise bancária. Não preciso de explicar isto, porque os eventos recentes são por demais auto-explicativos, mas gostava que percebessem que além de ser bancária também é uma crise do poder.
É uma crise do governo e do Estado. Quero recordar que nos Estados Unidos, os produtos que chamamos de lixo tóxico, que representam os ativos tóxicos de embelezamento de ativos que não existiam, só existiram porque políticos queriam que pessoas que não podiam ter casas, que não podiam pagá-las, as tivessem.
A realidade é que o governo federal dos Estados Unidos é literalmente culpado porque foi conivente com a banca ao lançar estes produtos. Já entre nós, de uma maneira quiçá mais pequena - e desculpem se vou ser politicamente incorreto - o triângulo poder local, construção e imobiliário é no mínimo tóxico - desculpem-me a expressão.
Não foi tão grave quanto o problema dos Estados Unidos, mas é igualmente danoso, fortemente danoso.
Portanto, gostava de referir que esta crise não é só bancária, é uma crise do governo e do Estado.
A terceira questão, que também gostava de deixar clara, é que esta crise é intergeracional porque sistematicamente as nossas sociedades protelam problemas e ao fazê-lo estão literalmente a promover desequilíbrios entre benefícios de hoje e os que poderão não existir amanhã.
Pessoalmente, em minha casa, aos meus filhos, digo que eu não vou ter reforma. Já agora, eu não me preocupo que não vá ter reforma, porque provavelmente tenho poupanças suficientes para eu próprio me suportar porque poupei para isso.
Mas preocupa-me que aquilo que chamamos de Estado social não exista, porque foi uma construção por demais importante na Europa para nós hipotecarmos apenas e somente porque não conseguimos tomar decisões.
Gostava, portanto, de referir três atributos da crise: a crise começa por ser bancária; depois é uma crise de poder, de Estado, de falta de regulação e de compadrio, nalguns casos, digamos, uma tolerância com o intolerável; e, terceiro, é uma crise intergeracional que não promove os equilíbrios certos entre gerações.
Na mesma exposição em que vi aquele quadro que vos referi há pouco, encontrei esta escultura que se chama "O Pressionador”.
Como veem, aquilo é um sofá pressionado por uma barra de aço e lembrei-me da Troika e do aperto que todos vivenciámos nos últimos anos e vamos continuar em parte, provavelmente, a vivenciar.
Achei, mais uma vez, esta intervenção artística particularmente feliz porque é elucidativa das pressões a que estamos submetidos. Experimentem sentar-se naquele sofá. Não é agradável, pois não? Não é um sofá confortável. É a tradução de onde estamos.
Para onde vamos? Vamos para uma desalavancagem dolorosa, porque a taxa de participação da economia financeira no mundo é demasiado alta. Ela tem de baixar nos próximos anos.
Vamos para o aumento da regulação bancária; não é preciso explicar isto, basta ver pelos eventos recentes.
Vamos para uma diminuição do peso do Estado, que é absolutamente necessária e que ainda não aconteceu em Portugal.
Diria, para todos efeitos, que não aconteceu porque, entre outras coisas, os cidadãos portugueses provavelmente também não querem que ela aconteça nem assumir as consequências do que ela significa.
Vamos para, talvez o que é o mais importante, o aumento da consciência dos cidadãos para os custos das suas pretensões. As democracias estão cada vez mais a tratar os cidadãos como se fossem crianças que só querem ouvir coisas agradáveis e nós vamos ter de ser capazes de falar das coisas que não são agradáveis.
Devo dizer que, desse ponto de vista, nos últimos três anos Portugal tem feito um progresso enorme e temos discutido coisas que não discutíamos. Ainda bem que as temos discutido porque é necessário discuti-las.
Há outros países que nem sequer estão aí.
Costumo dizer que há três tipos de coisas: as coisas que se sabem, as que se sabem que se sabem, as coisas que sabemos que não sabemos e há as coisas que a gente nem sabe que não sabe. Os brasileiros têm uma expressão: "eles não estão nem aí”. Ou seja, eles nem sabem que não sabem.
Quando um tipo não sabe que não sabe não pode sequer aproximar-se do problema. A França está nessa posição: ainda não sabe que não sabe. Daqui a três anos vão saber, talvez antes, porque o dinheiro não vai chegar. Nessa altura, acho que muitos cidadãos portugueses vão ter mais respeito por aquilo que se passou nos últimos três anos em Portugal e vão sentir que se calhar as coisas tinham razões que justificavam alguns debates que não eram populares.
Porque ninguém tem prazer nenhum em pressionar para lá do razoável o sofá.
Para onde vamos? Vamos questionar os partidos enquanto máquinas do poder em si. Há um sentimento generalizado de não reconhecimento nos partidos. Há uma pressão no sentido de aumentar a democracia direta. Seja por representação uninominal, seja inclusive por consulta permanente.
Quero recordar que se a gente faz tanta coisa pelo telefone também pode votar, mais tarde ou mais cedo. Isto significa participação em atos de decisão.
Os partidos não podem pura e simplesmente esquecer isto. Os cidadãos sabem somar dois e dois.
Vamos para uma pressão neste sentido. Vamos para maior transparência, cada vez mais. A cousa pública tem de ser demonstradamente bem gerida e vamos com certeza ter de questionar as fronteiras do estado social.
Gosto de citar um senhor que foi um gestor extraordinário, apesar de ter começado como ditador, mas depois fez um excecional trabalho. É um senhor chamado Lee Kuan Yew que foi Primeiro-Ministro em Singapura durante muitos anos.
Ele criou e é responsável pela Singapura tal como nós a conhecemos. Singapura passou do primeiro mundo para o terceiro mundo em 30 anos. Tal não teria sido possível se ele não tivesse tomado decisões duras.
Umas delas foi ter convidado - e desculpem a expressão que é um eufemismo - todos os habitantes e cidadãos de Singapura a poupar, mas não lhes deu a permissão de não poupar; poupou por eles, cabimentou e cativou parte dos seus salários.
Disse-lhes que o dinheiro era deles e que ia devolvê-lo com juros e fê-lo passados anos, mas no interlúdio poupou por eles. Por que o fez? Porque precisava de investir e com qualidade. Não há poupança sem investimento. Fê-lo, porque precisava que o consumo fosse reduzido para dar lugar ao investimento.
Ora, isto não foi popular no seu tempo, mas 20 anos volvidos, Singapura era uma pequena economia de primeiríssimo mundo.
Acho que temos de olhar para Singapura para olhar para algumas coisas que eles fizeram. Obviamente pensam de formas muito diferentes da Europa, mas merecem ser tratadas e devemos conhecê-las.
Isto é o Google Car. É um carro que já está legal no Nevada, na Califórnia e já é possível comprar um carro que se guia automaticamente. A minha mãe tem 80 anos, não sabe conduzir. Já comecei a explicar-lhe que ela se calhar ainda vai usar um destes e vai dizer ao carro para a levar para a aldeia e o carro lá vai de forma segura.
Isto é uma coisa que parece positiva, porque obviamente para todos efeitos representa um novo padrão de mobilidade. Isto já funciona, não cria acidentes, funciona bem. Só que gera desemprego em massa ao nível profissional.
Aqui, vão-se colocar questões do género: devemos aceitar isto, ou não? É comparável com o que se tem passado nos últimos dias com o Uber na Alemanha. Vamos ter cada vez mais de nos questionar se a tecnologia é para nos ajudar, ou é para não nos ajudar. Eu gosto muito de tecnologia, mas não quero esquecer-me que a tecnologia é um meio para nos ajudar como Homens e não para ser um fim.
Qual é o problema que vão enfrentar? Pela primeira vez no mundo, acho que o nível da automação inteligente da sociedade é de tal forma rápido que nós não conseguimos garantir criar emprego à mesma taxa que estamos a destruir.
Isto representa potencialmente desemprego estrutural. Digamos que o efeito de Schumpeter - para citar o economista austríaco - funciona demasiadamente lento.
Isto é um problema, mais uma vez. Não queremos suspender a inovação tecnológica, que é de facto um bem inestimável para os homens, mas também não queremos que uma porção significativa de pessoas no mundo não tenha trabalho.
Não temos respostas para estas perguntas e elas são pertinentes. Um dos livros que vos recomendei, quando vocês me perguntaram, é um livro chamado "The Second Industrial Age”, que foi publicado por dois economistas do MIT no princípio deste ano e é justamente sobre esta questão do impacto da automação do trabalho humano.
Já não quero falar do senhor Ray Kurzweil que é um futurólogo; eu sou membro da Associação Americana de Futurologia e não quer dizer que sou igual ao Zandinga. Quer dizer que trabalho em perspetiva. Esse senhor sim é um visionário, eu à beira dele sou apenas e somente um reles aprendiz: o Ray Kurzweil é um homem que criou uma universidade chamada Universidade da Singularidade.
Já agora, os seussponsorssão a Google e a NASA. Se tudo correr bem, em Novembro vou fazer um curso lá, na Califórnia, um curso de Medicina Tecnóloga. Este senhor prognostica que em 2045 este computador que aqui está e que chamamos de telefone mas não é um telefone, é um computador e já hoje tem mais poder computacional que toda a infraestrutura que levou o homem à lua.
Este computador que aqui está, que vocês têm nos bolsos, tem mais poder computacional que todo o poder computacional que foi usado pelos homens para pôr o homem na lua.
Só que em 2045 este mesmo computador vai ser mais potente que o vosso cérebro. Isso levanta umas questões complicadas. Já agora, isto projeta-se hoje, porque se pode projetar fazendo umas curvas com determinados pressupostos. Quando isto acontecer terá implicações sociais e económicas, de redistribuição de riqueza e impostos.
Como é que se modela e reorganiza a sociedade? Em particular, eu vivo a destruir trabalho todos os dias porque sou um tecnólogo e tenho preocupações morais com isto, porque não gosto de me sentir o mau da fita. É uma questão moral, para todos os efeitos, de querer equilibrar o barco.
Portanto, dei por mim sempre a pensar que de facto isto de automatizar tem coisas boas, extraordinárias, se pensarmos bem há 20 anos não faziam coisas que fazemos hoje, porque literalmente cada vez mais há máquinas que as fazem por nós, mas por outro lado temos de pensar que isto da distribuição criativa de emprego cada vez mais inteligente tem de continuar a acontecer, senão não conseguimos que a sociedade seja justa e equilibrada.
O que obviamente é uma coisa em si própria desejada.
Queria dizer-vos que estamos naquilo que eu acredito que é o princípio da economia do conhecimento. Deixem-me explicar o que é que isto significa. Sou engenheiro de sistemas, o meu domínio em autossuficiência do conhecimento é 30% ao ano.
Vou repetir: o meu domínio em autossuficiência do conhecimento é 30% ao ano. Isto quer dizer que em três anos se eu não renovar o meu conhecimento eu não sei nada, sou obsoleto. Isto quer dizer que os diplomas deviam caducar.
Acabei de renovar a minha carta de condução. Cheguei aos 50 anos e pelas leis da República Portuguesa tenho novamente de verificar se estou em condições de conduzir um carro. Imaginem que alguém me dizia que de três em três anos, ou de quatro em quatro anos, tenho de renovar o meu diploma de engenheiro, ou de médico, ou de advogado, porque já não o sou.
A nossa sociedade não está preparada pela esta celeridade da obsolescência do conhecimento. Mas a realidade é que isto acontece.
Vão ver que para mim isto é capital e tem que ver com a necessidade que temos de continuar a estudar. Os meus pais eram relativamente pobres. O meu pai, em particular, foi o único que estudou da família toda. De todos os sete irmãos foi ele quem estudou, porque o pai dele decidiu que era ele que estudava.
Eu não passei por isso, nem eu, nem a minha irmã. Os meus filhos, então, nem imaginam o que isso seja. São apenas duas gerações de diferença, mas já nos esquecemos disto.
Quando fui colocado a estudar, a minha mãe perguntava o que é que eu queria ser quando fosse grande. Hoje esta expressão não teria significado, pois se em três anos eu fico obsoleto não há esse aspeto de ser grande, porque ser grande muda de três anos em três anos.
Isto quer dizer que temos de nos preparar enquanto sociedade para todos estudarmos toda a vida. Digo todos porque não são só os membros da elite que devem estudar, são todos porque só assim teremos uma sociedade equilibrada e justa.
Isto quer dizer, por exemplo, que a pessoa que está à vossa frente que é a primeira que denegria o "Novas Oportunidades” criado por um governo do PS, porque basicamente tratava por adquiridas coisas que não o deviam ser e que deviam ser sérias e rigorosas, é a primeira pessoa que diz que é necessário criar esquemas que permitam às pessoas continuar a estudar e a ter novas oportunidades mas de uma maneira rigorosa e séria. E é para todos!
[APLAUSOS]
Eu acredito em educação contínua para todos, não é para alguns, é para todos. Já agora, isto não é fácil, porque cria mecanismos que obstaculizam a proteção de alguns que nunca gostam de sair do seu lugar. É humano, toda a gente gosta de uma vez adquirida uma situação querer continuar nela. É normal, é humano.
Deixem-me agora focar um bocadinho em Portugal e vou aqui ser politicamente incorreto, como já devem ter percebido eu não tenho grande jeito para ser formal, não me está na massa do sangue, então vão-me tolerar que eu seja relativamente informal e parcial. A opinião é minha, é do António e pronto.
Vou falar-vos do que gosto no meu país. Gosto da simplicidade dos portugueses. Trabalhei por todo o mundo, não senti simplicidade nenhuma na Alemanha, nem na França. Senti simplicidade nos Estados Unidos em que todos são emigrantes e não se esqueceram que são emigrantes.
Em Portugal as pessoas são simples e eu diria "graças a Deus”. Gosto das qualidades enquanto trabalhadores: acho que os portugueses são trabalhadores excecionais. Gosto da multiculturalidade dos portugueses, a capacidade que os portugueses têm de trabalhar com um italiano pela manhã e com um alemão pela tarde.
Quero recordar que o italiano, costumo eu dizer a brincar, é um tipo que se lhe damos 30% de desconto ele não gosta de nós porque para ele nós só somos bons se lhe dermos 50% de desconto. Já o alemão é um tipo que se vocês lhe derem 30% de desconto ele acha que vocês são mal-educados, porque basicamente lhe deram um preço errado à cabeça e que não tinha nada que ver com a realidade.
Um português é um tipo estranho que é capaz de trabalhar com um italiano pela manhã e com um alemão pela tarde, mas fá-lo com arte. Isto é muito importante na miscigenação multicultural. Isto é muito bom.
Vi isto a funcionar em todo o mundo. Tenho experiência disto.
Gosto do nosso território, gosto deste país. Gosto de Castelo de Vide, gosto de Portalegre, porque é bonito e convém não estragar. Gosto muito da nossa capacidade de desenrascanço. Estava a falar aqui à mesa há pouco que de facto a gente coloca essa palavra negativamente, mas devo dizer-vos que já vi coisas extraordinárias feitas por portugueses, à vezes sem perceber como nem porquê.
De facto, temos essa condição, quiçá pela simplicidade e humildade. Não sei porquê.
Deixem-me de dizer-vos do que mais gosto: gosto de Camané, de Rodrigo Leão, Valter Hugo Mãe que para mim vai ser Nobel da Literatura. Gosto de Gonçalo Tavares apesar de ele ser estranho. Gosto do Frederico Lourenço que é um tipo estranhíssimo mas muito interessante. Gosto que estes três escritores portugueses, totalmente diferentes entre eles, nascem num país pequenino e não sei como é que um país desta dimensão consegue produzir escritores desta qualidade.
Já agora, aquele senhor que está ali, o Valter Hugo Mãe, escreveu um livro que se chama "A Máquina de Fazer Espanhóis”. Se lerem esse livro e não chorarem, não são homens, são máquinas.
[APLAUSOS]
Aquele homem é um grande homem.
Gosto desta pala, gosto do que ela representa de arquitetura, de elegância e do trabalho do Siza e também da engenharia.
Pensem nos estranhos dos engenheiros que tiveram que fazer com que isto funcionasse. Isto só existe, já agora, porque há uns cabos que sustentam aquilo, porque senão caía.
Portanto, para mim esta pala vale como representação da qualidade da arquitetura; já ganhámos dois prémios Pritzker que é o Nobel da Arquitetura, com o Souto Moura e o Siza Vieira.
A mesma coisa podia dizer deste estádio que por acaso é na minha terra, em Braga. Pode não ser muito funcional - porque não é, é frio -, mas é bonito, é mesmo bonito. Aqui não tem nada que ver com o futebol, tem que ver com a elegância das linhas.
Gosto da Vieira da Silva, gosto do Ângelo de Sousa que acabou de falecer há pouco tempo e foi um dos melhores pintores portugueses do séc. XX e do início do séc. XXI.
Gosto de Miguel Tavares, gosto do José Alberto Fernandes, gosto do Daniel, do António. Gosto destes gajos porque são todos sérios e não têm a mesma opinião política, mas são todos sérios e quando defendem alguma coisa defendem-na com substância.
Não gosto que a primeira página do Financial Times comece com esta frase. Não gosto que quando Portugal esteja na primeira página do Financial Times seja por causa desta razão. Não gosto do chico-espertismo que marca a maior parte da vida portuguesa. Não gosto nem de chicos-espertos pequenos nem de grandes. Não gosto de chicos-espertos e ponto. A gente tolera demasiado. Não os punimos, não corrigimos as suas atitudes, aceitamos demasiadas vezes a impunidade.
Não gosto de algum espírito saloio português. Não gosto da nossa falta de mundo.
Às vezes, somos os melhores do mundo e nem sabemos. Quer dizer que não temos mundo nas pernas e precisamos desse mundo nas pernas.
Não gosto da nossa falta de educação cívica. A taxa de economia informal em Portugal é cerca de 26%. Se tudo correr bem este ano com o e-fatura baixa para 24% ou 23%. A taxa de economia paralela no Norte da Europa é de 15%.
Estes 8% de diferença eram o suficiente para o nosso Estado estar equilibrado.
Não consigo pensar em medidas draconianas sobre o Estado, sem ao mesmo tempo querer garantir que esta economia paralela baixe; ela tem de baixar, tem de se fazer o máximo por isso. Portanto, aplaudo por ver que o trabalho do Paulo Macedo enquanto responsável dos impostos portugueses continuou com o Paulo Núncio que de facto fez um bom trabalho e continua a fazê-lo.
É necessário o combate à economia paralela, senão as regras não são iguais para todos: uns chicos-espertos não pagam impostos e outros têm de os pagar.
[APLAUSOS]
Já agora, demasiadas vezes - citando o João Miguel Tavares - a direita deixa este argumento à esquerda, porque a esquerda supostamente tem sempre o argumento de que moralmente é mais correta. Não é inteligente, isso. Este assunto não tem nada que ver com a direita ou esquerda, tem que ver com o ser sério ou não, é um indicador de seriedade do país.
[APLAUSOS]
Não gosto da falta de ambição do país. Ser humilde, está bem, não ser arrogante é bom, mas não ser ambicioso de uma maneira sopesada e comedida, não é inteligente.
Não gosto que tenhamos tantas leis. Não gosto que não as apliquemos.
Lembro que quando estava na Alemanha e quando fiz o primeiro projeto lá ao fim de uma semana eu tinha sete multas documentadas com fotografia da minha equipa. A minha fotografia estava nalgumas delas por uma simples razão porque tínhamos uma regra a dizer para passarmos 60 e nós passávamos 80.
Ao fim de uma semana tínhamos sete dessas e reuni a minha equipa e disse: "Não há mais nenhuma destas porque a partir de agora cada um paga a sua”. Na semana seguinte nenhum tinha fotografias.
Não estamos habituados a implementar as leis. Definimo-las e depois não as implementamos e isso não funciona, porque de facto, para todos os efeitos, não há punição.
Não gosto destas coisas. Por isso, se querem a minha opinião sobre o que há a mudar, para cada uma destas coisas se calhar tínhamos muito a fazer.
Quero que esteslideseja bem interpretado. Aquele é o António Damásio. A maior parte vocês conhece o António Damásio. Ele é um dos maiores cientistas do mundo no campo das neurociências. Não trabalha em Portugal, é português e é um grande cientista.
Mas talvez o que vocês não saibam é que ao lado do António Damásio está o Nuno Peres. Um português rodeado por dois estrangeiros que por acaso um é russo e o outro americano, são os prémios Nobel da Física. Os últimos prémios Nobel da Física foram os homens que inventaram o grafeno. O grafeno é provavelmente o material mais importante dos próximos 30 anos. Acabámos de sair da era do silício que marcou os últimos 30 anos e estamos a entrar na era do grafeno que literalmente é o material mais importante para a nanotecnologia.
Quando estes senhores que ganharam o Prémio Nobel da Física, o receberam em Estocolmo agradeceram a sete pessoas e duas delas eram portuguesas: uma trabalha na Universidade do Minho e outra na Universidade do Porto.
Sabiam disso? É suposto conhecermos aquela pessoa. É demasiado importante. Nós não tínhamos pessoas assim há 20 anos. Não tínhamos qualidade para competir a esse nível.
O Nuno Peres é o Cristiano Ronaldo do grafeno. Estão a ver? Só que isto é mesmo, mesmo, importante, mais importante que a bola. A bola é importante, mas isto ainda é mais importante. Não podemos não conhecer estas pessoas. Isto é verdade um pouco por todo o mundo, mas em Portugal, porque somos pequeninos se calhar é mais importante.
Não gosto que vocês não saibam sobre o SNS. Espero que tenham eleito a reforma da saúde e o SNS como uma das grandes, grandes, grandes conquistas dos últimos 40 anos.
Portugal normalmente tem uma posição de 30 a 40 nosrankingsdo mundo, já em saúde está numa posição entre 10 a 20. A nossa saúde é melhor que o nosso país.
Costumo dizer a brincar, que se pudesse, desviava dinheiro dos advogados e dos juízes diretamente para os enfermeiros e médicos. O mundo ficava mais justo.
[APLAUSOS]
É populismo barato dizer isto. Tenho consciência disso. Mas gostava que medíssemos a produtividade dos investimentos nos setores e, já agora, verificássemos o que aconteceu nos setores comparados. Não queria perder isto, acho que a saúde é uma oportunidade em Portugal. É uma oportunidade não só para servir os portugueses, mas como para servir estrangeiros, exportando qualidade.
Estes são grandes tecnólogos portugueses. Não são conhecidos. Aqueles dois que estão ali em baixo fundaram uma empresa chamada Vision-Box. A Vision-Box é uma empresa portuguesa que no ano passado vendeu 15 milhões de euros e que se tudo correr bem vai ser líder mundial de automatização de aeroportos. Começaram por automatizar aquelas máquinas em que vocês passam nos aeroportos e vos reconhecem a face.
O que se calhar vocês não sabem ainda é que 34 aeroportos do mundo são automatizados por eles e que nesta altura eles preparam-se para serem os líderes mundiais.
Talvez não saibam, também, que a Inditex que é a maior empresa de moda do mundo, não está em Milão nem em Paris, nem na Califórnia, mas em Arteixo A Corunha.
Isto deve-vos ajudar assim que a gente encontra desculpas para justificar a nossa inépcia, lembrem-se da Inditex, porque eles não encontraram desculpas e fizeram a melhor empresa de Moda do mundo no sítio errado e não encontraram desculpas.
Talvez não saibam que 600 lojas da Inditex já têm umas antenas em cima, que são capazes de medir osstocksem tempo real, porque têm uma etiqueta com código de referências nos produtos. Isto quer dizer que a contagem dos produtos faz-se de meia em meia hora automaticamente. Talvez não saibam que a empresa que faz isto para a Inditex é uma empresa portuguesa de São João da Madeira.
O João Vilaça, que é o tipo que está ali do lado direito, é quem faz isto. Já agora, no mundo há dez como ele.
Estes tipos não são conhecidos mas têm de ser porque realmente são bons.
O que devemos fazer para sustentar o nosso país? Está ali uma estátua do Rui Chafes, que é uma estátua linda, tem um peso enorme sustentado por aquelas cordas de aço que sustentam a bola.
Aquela estátua é de uma elegância extraordinária. O Rui Chafes é o maior escultor português da atualidade.
Temos de preservar o SNS, temos de o equilibrar; temos de defender o território, não podemos estragá-lo; temos de garantir que continuamos a defender a segurança que é um bem precioso.
Uma das coisas mais impecáveis do nosso país é que nós não nos preocupamos com isto em larga medida. Trabalhei no Brasil e garanto-vos que não tem nada a ver, nem em S. Paulo, nem em Portalegre, nem em Curitiba.
À noite, olhava para os lados quando andava na rua. Aqui não olho para os lados, diria, ainda não olho. Quiçá deveríamos preservar isto, porque isto não tem preço. é um valor inestimável.
Temos de preservar a qualidade da tecnologia e da ciência, que foi alcançado nos últimos anos, não podemos perdê-la, mas temos de transformar essa ciência em economia. Não podemos continuar a tratá-la só como ciência.
Finalmente, não podemos perder uma coisa que é incrível, que é o valor que ainda atribuímos à família, que está muito deteriorado mas que para todos os efeitos ainda é muito melhor do que nalguns países que consideramos mais desenvolvidos e que neste domínio não o são, são menos desenvolvidos.
Vou terminar com algumas linhas de mudança. Já perceberam que gosto de falar e falo demais.
Algumas propostas: a primeira não precisa de explicações, que é que os dois partidos precisam de se entender. Se eu pudesse - no condicional, obviamente, porque não posso - fechava as pessoas numa sala e não deixava sair enquanto não entrassem em acordo.
[APLAUSOS]
É uma coisa que provavelmente muitos portugueses partilhariam em termos de opinião, que a distância entre os dois partidos do arco da governação é de dez centímetros, não é grande, é pequena. Portanto, se a questão é puramente poder é suposto que o superior interesse do país mande nas pessoas.
Chamem-me idealista, lírico, se quiserem, mas neste ponto antes de ser lírico sou português.
É preciso reduzir peso do Estado, pois não conseguimos suportar o Estado que temos. Ainda não o fizemos. Mais, deparámo-nos com obstáculos que são complicados. Se os dois partidos não quiserem rever alguns obstáculos, nomeadamente os constitucionais, provavelmente nunca vamos fazer isto.
Precisamos de garantir coisas básicas como garantir que a administração pública tenha objetivos e reporte os mesmos de forma transparente, de tal maneira que os méritos dos melhores sejam distinguidos e não necessariamente visíveis os piores. Mas pelo menos os melhores que apareçam claramente distinguidos pela positiva.
Precisamos de continuar a combater a economia informal e a evasão fiscal, sendo que nesta última é muito mais complicado porque tem interesses mais poderosos.
Depois, na linha do que disse há pouco, acho que precisamos de investir em educação contínua.
O que é educação contínua para mim? É todos metermos na cabeça que vamos estudar quatro ou cinco coisas na vida. Vou passar os últimos anos da minha vida profissional a investir em medicina.
Por quê? Porque acredito que estamos num momento em que a medicina vai ser tão penetrada pela tecnologia que o ato médico vai mudar.
Já agora, a medicina é linda. Só não sou médico porque não tenho coragem emocional para viver com o ato médico. Experimentei, não resultava, não tinha capacidade emocional para o fazer. Ligava-me demasiado aos pacientes e isso é perigoso. É perigoso para o médico e para o paciente.
Mas acredito, para todos os efeitos, que nos próximos dez anos vou trabalhar neste domínio.
Para isso, tenho de estudar, tenho de ler. Sou engenheiro e de médico não tenho nada. Rodeei-me de colegas que são médicos e estou a estudar para conseguir pelo menos falar com eles, percebê-los, para garantir que pelo menos as palavras são compreendidas, o dialeto.
Acho que isto é válido não só para mim mas para toda a gente. Já agora, também para as pessoas ditas não-qualificadas. Acredito que é a única forma de nos defendermos contra o desemprego.
Uma última palavra para a saúde. As doenças que hoje matam não são doenças agudas, são doenças crónicas. 75% da fatura do SNS é de doenças crónicas. Isto é verdade aqui como é verdade em todos os países do mundo. Quer dizer que um tipo com doença crónica tem de viver com ela, não se combate com hospitais, estes são necessários só para os episódios agudos.
Se queremos sustentar o SNS tem de ter programas de saúde continuada em casa. Isto é muito diferente do SNS do passado, é um SNS do futuro.
Acredito que temos três setores prioritários em Portugal. O turismo, que não é preciso explicar por quê, estão aí os dados: o país é bonito, as pessoas são amáveis e simpáticas, é difícil não gostar disto. Digamos que o comum dos mortais vem cá e gosta disto. Não é preciso, para todos os efeitos, ser muito complicado. Basta tratarmos isto com qualidade e não à toa como fez a falta de qualidade e de qualificação durante muitos anos.
Acredito no digital, porque vejo que temos qualidade e acredito no setor da saúde e das ciências da vida. Temos três mil PhD em ciências da vida, temos 1% deles empregados em empresas e 99% empregue em universidades. Isto é inaceitável.
Temos de criar empregos qualificados em investigação aplicada e temos de atrair empresários para investir em Portugal porque não temos empresários suficientes neste momento.
Temos de rever a Segurança Social, mais uma vez, por uma simples razão, a do equilíbrio e provavelmente, aqui, vamos ter de pensar e ter esquemas em que as nossas reformas serão proporcionais àquilo que poupámos.
O esquema tem de mudar no futuro, temos de prever um período de transição que garanta que não nada abruto, porque as pessoas que hoje estão na reforma provavelmente não sabiam de nada disto há 20 anos. Portanto, não é justo que a gente promova mudanças digitais, elas têm de ser analógicas.
Para terminar, gostava de dizer que acredito que é necessário fazer com que Portugal tenha maior desenvolvimento na área da participação democrática.
Vejo isto com duas maneiras. Vejo com representações uninominais. Não sei nada de política, ou sei muito pouco, mas sou leitor como toda a gente, de jornais, e procuro informar-me e obviamente que sei que a política é uma coisa importante como se vê.
A outra coisa que é realmente interessante seria olhar para a Suíça e tentar perceber por que é que um país tão rico como eles usa mecanismos sistemáticos de referendo para questionar e recolher as opiniões das pessoas localmente. Já agora, uma federação que devia ser exemplo para a Europa.
Vejo isto mais no poder local do que no poder central. Vejo as autarquias como preparador de decisões e menos de decisores.
Agora, isto irá demorar cinco ou dez anos, mas acredito que os cidadãos vão querer. Estão fartos de não ser representados.
Não tem a ver com partido A ou B; simplesmente estão fartos e querem participar. Só dessa maneira, para mim, vamos conseguir combater o défice democrático. Para terminar e digo isto com muito cuidado: notiminge no quadro certo, provavelmente, é necessário renegociar os juros e os prazos da nossa dívida.
Viram anteontem o Daniel a dizer aqui que se calhar devíamos aproveitar as baixíssimas taxas de juro que temos para fazer orevolvingda dívida, pagar parte e garantir que renunciamos taxas para a frente. Parece-me uma medida avisadíssima.
A dívida é a mesma mas pelo menos pagamos menos. Parece-me uma coisa, para todos os efeitos, de bom senso. Acho que, mesmo não percebendo nada de finanças, parece absolutamente equilibrado fazer isso.
Vou terminar com este quadro muito bonito do Ângelo Sousa. Que Portugal é que gostava de ter daqui a 20 anos? Se pudesse dar um salto para o futuro, se pudesse ter uma espécie detime warp machineque me transportasse, o que é que eu gostava que caracterizasse o nosso País?
Gostava que fosse um País menos endividado, não só no Estado, mas nas empresas e nas famílias. Gostava que considerássemos ter IRC diferente para as pessoas que investem e para as pessoas que sacam dinheiro das empresas. Se calhar era justo dizer que o IRC para os que reinvestem é mais baixo que o daqueles que simplesmente querem retirar dinheiro das empresas e continuar a descapitalizá-las.
Gostava de ver um nível de endividamento do Estado obviamente mais baixo do que o de hoje que é inaceitável. Gostava de ver o País reconhecido como líder de turismo, que já vai sendo.
Não sei se viram o número incrível de prémios que Portugal ganhou nos últimos eventos do turismo, acho que foram 12 ou 13. Um número incrível.
Isto representa um bomlobbyde Portugal mas com certeza que representa a qualidade, porque eles não devem atribuir prémios a coisas que não são boas.
[APLAUSOS]
Gostava que daqui a 20 anos o meu país fosse conhecido pela educação contínua, por sermos líderes, por sermos um país que estuda em casa. Que toda a gente estude, que isso seja normal e que aparece uma escola profissional ou uma universidade só para fazer os exames, porque a escola do futuro não vai ser só presencial. Vai ser presencial e vai ser em casa.
Gostava que fosse um país, para todos os efeitos, que tivesse absoluto reconhecimento pela qualidade dos seus profissionais de saúde. Porque isto é muito importante para as pessoas.
Se perguntarem aos cidadãos o que é mais importante nos serviços do estado, eles dizem-vos que é sem dúvida a saúde, porque não há nada mais precioso que a saúde. É simples.
Obviamente também gostava que no meu país, no PSI-20, não tivesse zero empresas de propriedade intelectual. Se virem hoje, não temos nenhuma empresa no PSI-20 que seja baseada em propriedade intelectual. Daqui a 20 anos, gostaria que houvesse pelo menos umas quatro ou cinco empresas. Gostava que a Bial já fosse uma empresa de milhões e se calhar outra farmacêutica desse calibre, e que houvesse duas ou três empresas digitais que fossem desse calibre também.
Pensem que estas coisas não acontecem por acaso. Lembram-se do Skype? O Skype foi comprado pela eBay e vendido mais tarde à Microsoft.
Sabem onde nasceu o Skype? Foi na Estónia. A Estónia é um país pequeno, mais pobre do que Portugal.
Já agora, onde é que nasceu a melhor empresa bancária digital do mundo? Qual é a melhor empresa de serviços digitais bancários do mundo? É o M-PESA. Sabem onde é o M-PESA? No Quénia.
Já agora, o M-PESA fez mais para combater a economia informal do Quénia do que o Ministro das Finanças do Quénia. Basicamente, trata-se de um sistema de pagamentos com base no telefone, que 80% de pessoas no Quénia usam.
O futuro da banca está no Quénia. Não está nos Estados Unidos ou na Inglaterra.
Esta coisa da Internet tem um lado negativo, que é a competição desenfreada de todo o mundo competir com todo o mundo, mas tem uma coisa positiva, que é que não há o sítio errado, não há só os betinhos da Califórnia a ganharem.
Fiz-me entender? Eu não sou betinho, não quero ser betinho.
[APLAUSOS]
O Skype de Portugal ainda está por fazer, mas a qualidade intelectual das pessoas não é obstáculo. Os portugueses são tão inteligentes quanto os outros. Eu vi isso com os meus olhos. Trabalhei em retalho, posso garantir que trabalhei com americanos, alemães, e se fosse um jogador de futebol teria jogado no campeonato mundial, e vi que os portugueses são tão bons ou melhores que os outros.
Agora, temos de garantir que isso acontece, não a fazer serviços mas a fazer propriedade intelectual, porque é a maneira mais produtiva de trabalhar no mundo.
Finalmente, aconteceu uma revolução nos últimos dois anos, forçada, porque não tínhamos outra hipótese. Não havia a quem vender, o estado parou de comprar e toda a gente teve de descobrir que havia aviões e que podia vender para o mundo. Uma descoberta recente. Com base nisso, conseguimos o quase milagre de ter 40% do PIB em exportações. É uma coisa que se me dissessem, há três anos, que ia acontecer, eu dizia que alguém tinha tomado alguma coisa e estava a delirar.
Não podemos é parar, isto tem de continuar e temos de subir na escala de valor.
Gostava também que daqui a 20 anos tivéssemos melhores exemplos de democracia e de práticas de gestão pública por pessoas normais que estão a representar os outros cidadãos e que pura e simplesmente estão a fazer o melhor pelo seu espaço, seja ele local ou central.
Para quem devemos olhar? E com isto termino. Isto é um quadro de Kandinski que é o meu pintor favorito. O meu pintor favorito é russo, chama-se Wassili Kandinski.
Não posso ter quadros dele, pois são muito caros, então tenho fotografias.
[RISOS]
É mais barato.
Se querem olhar para exemplos no mundo, devem olhar para a Alemanha no mercado de trabalho. Não foi popular flexibilizar o mercado de trabalho na Alemanha.
O senhor Gerhard Schroeder fê-lo. A Alemanha só está bem porque fez reformas não-populares.
Temos de olhar para Singapura que passou para o primeiro mundo em 30 anos. Temos de olhar para o que eles fizeram. São o melhor exemplo do mundo.
Já agora, no primeiro governo de Sócrates - em quem votei, não votei no segundo, não sou burro -, basicamente ofereci este livro da biografia deste senhor ao Primeiro-Ministro, com as páginas marcadas, mas acho que ele não as leu.
[RISOS]
Portanto, temos de olhar para a Suíça na democracia direta, na saúde e no pequeno país voltado para o mundo. Um país pequeno mas voltado para o mundo, com marcas mundiais. Ainda não temos marcas mundiais e precisamos de ter.
Temos de olhar para a Suécia que passou por tudo o que nós estamos a passar, nos anos 90. Se a Europa quer olhar para algum sítio, tem de olhar para a Suécia, para as reformas que eles fizeram nos anos 90 e literalmente fazerem umreplaydo que eles fizeram.
Aquilo que está a acontecer em Portugal é apenas uma parte do que o que os suecos fizeram. Obviamente, eles eram mais ricos, nós somos muito mais pobres; os graus de liberdade que eles tinham eram maiores que os nossos.
Temos de olhar para o Brasil, para a Itália, para a Nigéria no combate à evasão fiscal e à economia informal. Temos de olhar para os Estados Unidos para tudo o que se relaciona com a translação do conhecimento para a economia, porque de longe são o melhor país do mundo.
Gostava também de vos dizer que também não quero olhar para estes países no mesmo. Isto é Francis Bacon e portanto um belo horrível. Não quero olhar para a Alemanha no setor bancário que é pior que o de Portugal, mas não o mostra, está escondido.
Aquilo que se passou nas caixas espanholas ainda se vai passar na Alemanha. É só adiado, porque o problema está a ser empurrado para a frente.
Não olhem para Singapura no que toca à segurança, porque aquilo era uma democracia musculada, para não dizer uma ditadura. Isso não é possível nem desejável fazer-se na Europa. Não queremos olhar para a Singapura nessas coisas, não somos assim na Europa nem queremos ser.
Sobretudo, não olhem para os Estados Unidos na área da saúde, porque apesar de serem o país mais rico do mundo, têm a 37ª saúde do mundo, mesmo contando com o facto de consumirem mais de 50% do orçamento da saúde do mundo.
Ou seja, são exatamente o sítio errado para olharem.
Nos Estados Unidos, saúde têm os ricos, os pobres não têm. Isso, para mim, não é aceitável.
Portanto, não quero só olhar os exemplos pela positiva, mas também quero saber quais são os exemplos pela negativa para os quais eu não quero olhar.
Dito isto, já me estendi demais. Perdoem-me a visão parcial, que é a minha; repito que é apenas e somente uma, que é a minha. É uma visão que pretende obviamente fazer escolhas e ajudar Portugal a ser um país melhor, porque afinal de contas os portugueses merecem.
[APLAUSOS]